segunda-feira, 5 de maio de 2014

Ezequiel, a Antártida, o ESPÍRITO e o Vale de Ossos Secos



Como bom mochileiro e guardador das próprias finanças, marquei o voo de volta da Antártida para a noite, economizando o dinheiro de mais uma hospedagem para todos. Não se tem boas vistas aéreas, é verdade, mas o bolso agradece. Para a minha surpresa, me esqueci que estava em alta latitude e que saindo às 22h15, estaríamos pegando o fim do mundo exatamente na hora do por-do-sol e que é das horas mais LINDAS, especialmente de um aéreo, especialmente triste e lindo ainda por ser o dia da despedida. Ver as pequenas luzes da ilha grande de Terra do Fogo, a última porção de terra da Terra e saber que dali adiante só temos o círculo polar sul é lindamente assombroso. E frrrrio também. Muito frio.

Todos os que estavam do meu lado, não perceberam meu estado de semi-êxtase. É que a Patagônia/Antártida me respondeu(ram) algumas questões (e me colocaram outras 300! HA!). E naquela hora, a lição final que precisava aprender me veio. Nos meus últimos 60 minutos.

Esses anos vinham sendo de muito cansaço e apatia espiritual pra mim. A volta para o Brasil me lembrava de todos esses labores dos quais involuntariamente eu me sentia desanimado. Não vencido, desanimado. Não ver um futuro melhor para a terra onde se vive, os olhos cheios de ver tanta mentira, blasfêmia, o abandono do Caminho, a sensação de inutilidade do testemunho e da anunciação do evangelho, a prostituição e mercantilização religiosa da nação, a sensação de que como sempre "os homens amam mais as trevas do que a Luz" "porque as suas obras são más", de morte e maldade por todos os lados. E que se está já em uma boa caminhada lutando contra e para não ser tragado por essas coisas faz tempo. E que tudo o que já não era bom a cada dia parece que está pior. Assim eu vinha de certa forma.

Curiosamente estando em uma das terras mais frias do planeta, nos paradoxos e contra correntes que o ESPÍRITO de DEUS coloca a todos aqueles que se propõem a seguir a YESHUA, a palavra intensa que DEUS deu ao meu espírito por todos esses dias no gelo da Patagônia/Antártida era FERVOR. Palavra claramente ligada à efervescência, à ebulição e às altas temperaturas. Estranho, né? Pode ser.

Naquela volta da Antártida, na mistura de antevisão e lembrança do Brasil, por um momento um trecho da Bíblia se fez claro como água pra mim. Ali, em cima daquele avião sobre o fim do mundo. Me senti na pele do profeta Ezequiel, levado pelo SENHOR em uma visão a um vale repleto de ossos secos e o texto bíblico acrescenta: "estavam sequíssimos". Uma verdadeira descrição da completa sequidão da morte, abatida sobre o que antes fora a comunidade viva do povo escolhido de DEUS. Quando o SENHOR lhe pergunta se há alguma possibilidade de vida para aqueles ossos, tudo o que o profeta consegue timidamente responder é um: "SENHOR, Tu o sabes." Como quem entrega o microfilamento da esperança para o poder inimaginável de DEUS. Sem a menor das empolgações.

E DEUS, sempre lindamente contrariando nossas expectativas, não responde a Ezequiel um "Não, infelizmente. Chore e aceite essa dor", como também se recusa a responder um "SIM, fique tranquilo. Eu os trarei de volta à vida".

DEUS sempre se recusou a dar essas respostas fáceis. E Ele continua se recusando. Mesmo porque, Ezequiel não sabia, mas naquele contexto ele não passava de uma simples resposta de DEUS para a pergunta que o próprio DEUS havia posto. Ainda que ele fosse uma resposta consciente, vindo numa embalagem falante e cheia das próprias perguntas.

Então, muito sabiamente o SENHOR diz a Ezequiel o começo da verdadeira e completa resposta e se dirige ao profeta com essas palavras: "Vamos, filho da raça humana! Vamos! Profetiza ao vale de ossos secos e brade bem forte dizendo 'Ossos secos! Ouvi a Palavra do SENHOR!"

E então, como o pior dos loucos, o profeta se lança a cena ridícula das ridículas: começa a esbravejar alto e forte na direção do vale numa descrição quase patética. Diferente de seu contemporâneo Daniel, letrado, honrado e bem empregado na dureza dos tempos de exílio babilônico, Ezequiel vivia num contexto de pobreza e viuvez. Com suas roupas simples e lutas de quem pregava o evangelho de DEUS para judeus exilados, perdidos em si na revelação de DEUS e de sua missão histórica, perdidos na podridão moral e religiosa babilônica, na visão do vale de ossos secos Ezequiel é um simples judeu pobre e que irrompe como um louco contra um vale onde não há seres com vida que pudessem escutá-lo:

"Ossos secos! Ouvi a Palavra do SENHOR!"

De repente, começado o ridículo dos ridículos, o absurdo dos absurdos começa a acontecer. Um ruído macabro toma o vale de ossos. Cada qual procurava os seus vizinhos, como ossos ensandecidos a formar esqueletos inteiros! E DEUS dizia ao profeta que continuasse a profetizar, ao ponto de que as carnes aparecessem e a pele voltasse a lhes recobrir, até que o vale se enchesse de uma multidão de cadáveres inteiros, com pele, músculos e ossos, uma imensidão de defuntos estirados ao chão.

E para o milagre o qual não dependia dos ossos, mas do agir do ESPÍRITO, DEUS diz a Ezequiel que então parasse de profetizar aos ossos e que passasse a profetizar ao ESPÍRITO, ESPÍRITO que está presente nos 4 pontos cardeais da Terra, o ESPÍRITO que formou o Multiverso: "Dos 4 cantos da Terra, vem, ó ESPÍRITO, e assopra sobre estes mortos para que vivam!"

E então, um exército sobremodo numeroso se começa a se erguer sobre o vale, móveis e bípedes, um povo vivo e que tem a indestrutível VIDA, o exército dos escolhidos de DEUS, do povo que Ele um dia formou e que agora os resgata do poder da morte quando já não havia a menor das esperanças.

Assim, DEUS não nos diz que o futuro será lindo (portanto, descanse) nem tenebroso (portanto, morra). Ele não diz "jogue tudo pra o ar". Ele não diz "ligue o que se exploda". Ele diz sustentadamente: "PROFETIZA."

E a essência do chamado profético é essa: viver e chamar as pessoas ao arrependimento. Viver e proclamar a justiça. Denunciar a opressão, quebrar cadeias, anunciar o Caminho, a remissão, o perdão que está no sangue, a Vida que flui pelo ESPÍRITO.

Um povo assentado na mais completa morte e sequidão conhecerá a Vida, porque DEUS assentou a Salvação (em hebraico, YESHUA) e vai executá-La. É nosso privilégio ser parte dessa Salvação e trabalhar para o que Ele está fazendo em toda a Terra. Ninguém pode deter a Salvação dos escolhidos de DEUS, e longe de nos mimar ou de em nós infundir o desespero, DEUS nos desafia a sermos Seus profetas numa terra que vai de mal a pior.

Eu estava dentro do avião e já eram 23h, mas se podia ver a luz do crepúsculo linda e bem forte, como se fosse uma linda tarde (e não quase meia-noite!!) quando a forte palavra "PROFETIZA" fez todo o sentido para mim. DEUS me curava de um ceticismo e frieza doentia. E me impedia de cair no bobo otimismo e na simples ilusão. Os discípulos de YESHUA têm a cura e o equilíbrio de todas as coisas quando buscam de coração ao Seu DEUS e se submetem ao ensino do ESPÍRITO SANTO.

Pude então compreender que o ESPÍRITO ao Qual clamei diante da visualização de Las Torres estava comigo. Que Ele me tirara e que me levava de volta ao meu Vale de Ossos Secos. E que na Sua sabedoria DEUS me constituía assim: Sua estranha resposta de redirecionamento de fluxos. De gente colocada para profetizar ao vale de ossos secos, como também para profetizar (e às vezes contrapor) ao Seu próprio ESPÍRITO. De anunciar a Palavra que formou o poder exuberante de Los Cuernos. Mas que também tem o poder de fendê-los ao meio no dia e hora que bem assim entender.

A Antártida também é um vale de Ossos Secos. O ESPÍRITO passeia por toda a terra. A Palavra sustenta o Universo. E DEUS há de levantar o Exército pela força de Sua Vida e através da gente que Ele escolheu como Seus profetas.

Que estejamos entre eles!

Nenhum comentário: